sexta-feira, 16 de março de 2012

Sócrates e a Ciência


A maior parte das pessoas conhece bem a famosa frase de Sócrates "só sei que nada sei", mas bem menos conhece a história do porquê ele disse isso e o que essa frase realmente quer dizer. Esta virou um simples jargão, falado e repitido e, muitas vezes, usado para propósitos muito diferentes do original.
Tudo começou quando, nas ruas de Atenas, houve uma discussão (como normalmente havia na Ágora) que despertou a curiosidade dos cidadãos e a pergunta "quem seria a pessoa mais sábia da cidade". Houve uma pesquisa e uma certa deliberação, onde grande parte dos presentes chegou a concordar que Sócrates seria este homem. Claro, mais que depressa, muitos foram atrás de Sócrates para contar a ele e parabenizá-lo por ser considerado o homem mais sábio de Atenas.
Intrigado, Sócrates, ao ser informado disto, se questiona se isso seria verdade e passa a perguntar a diversas pessoas sobre os mais diversos assuntos: "o que é a Justiça?"; "O que é a Verdade?"; "É melhor ser justo ou injusto?", sondando se existia alguém que fosse realmente sábio.
Ao final de suas pesquisas, Socrates conclui que, de fato, ele era o homem mais sábio de Atenas, pois era o único que sabia de uma coisa: o fato de não saber nada.
"Realmente, sou o homem mais sábio de Atenas, pois sou o único a perceber uma coisa: que nada sei. E esta é a única coisa que eu realmente sei."Todos a quem perguntava, acreditavam saber muitas coisas e entender muitas coisas, mas não pareciam perceber que suas "verdades" nada mais eram que opiniões e passavam grande parte de suas vidas acreditando saber de muitas coisas e não percebendo que, no fundo, isso não passava de ilusão.
O fato de Sócrates perceber que era iludido, ter a consciência de que tudo considerado "fato" a sua volta poderia não ser, fazia dele mais sábio que todos os outros. O fato de ele saber que todas as suas ponderações, ideias, pensamentos, eram enviesados de alguma forma ou de outra, influenciados por diversos fatores, crenças, paradigmas, circunstâncias... fazia com que ele não caísse na ilusão de achar que "sabia de algo", e isso lhe dava uma grande vantagem sobre os outros homens de Atenas, ainda presos nas teias do deslumbramento de se acharem muito inteligentes.
Seria interessante que fizéssemos uma reflexão como a de Sócrates, de vez em quando, de ponderarmos até que ponto aquilo que acreditamos saber são, de fato, verdades, ou se, como grande parte daquilo que pensamos, faz parte do nosso conjunto de crenças. Além disso, seria interessante também que a nossa ciência atual se perguntasse, de vez em quando, sobre seus 'dogmas', que muitas vezes impedem o avanço por acreditarem "saber muitas coisas".
Meu ponto não é levantar a ideia de que crenças são ruins ou negativas, e sim do saudável exercício de entender que, no fundo, sempre temos, em algum nível, crenças, sejam elas religiosas, científicas,... arreligiosas, até! E de ter essa humildade para reconhecermos que estamos sempre "por aprender" as coisas, e que os conceitos que temos não estão fechados e terminados: são crescentes e sempre renovados.
Aquilo que é rígido e fixo morre e nenhuma sabedoria é, de fato, sábia se não reconhece esse fato.

Acredito que a lição de Sócrates com essa frase é tão válida hoje, em um mundo "científico" e cheio de "verdades comprovadas" quanto foi há 2 mil anos atrás.